Na época de 1994/95 os Sócios Sportinguistas, algo cansados do populismo então vivido e da ausência de títulos de relevo que se fazia sentir (claro, estou a falar de futebol), viram no aparecimento de José Roquete e no projecto que este, juntamente com um naipe credível de consócios, se propunha apresentar, a nova hipótese do nosso Sporting entrar no século XXI como um clube de vanguarda. Defendia Roquete que se operasse a revolução de infra-estruturas, apostando-se claramente na detecção e formação de talentos. A esmagadora maioria dos sócios apoiou este plano, numa assembleia eleitoral deveras concorrida.
Naquele tempo, quando nos dirigiamos a Alvalade para assistir a uma partida de futebol, num dia como o de hoje, muniamo-nos de um bom maço de jornais, guarda-chuva, chapéu, impermeável e um óptimo agasalho que nos protegesse da intempérie. Estou a dar voz àqueles poucos que se aventuravam com este tempo. Lembro-me de um jogo em que a direcção ordenou a que todos fossemos para debaixo da pala, tal era o dilúvio e a consequente fraca presença de espectadores. Noutro aspecto, os sócios que como eu se sentavam na bancada sul, ficavam bastante afastados das 4 linhas de jogo, em virtude da bonita mas aborrecida pista de tartan.
Os jogadores, para treinarem, equipavam-se no estádio e atravessavam a rua (olhando para os dois lados, não fosse um condutor mais distraido causar alguma lesão) para se treinarem num dos 2 relvados que existiam então ao lado da Av. Padre Cruz.
Por debaixo da bancada nova existia uma nave que raramente lotava, pese embora a pequena lotação, enquanto que junto ao Marquês de Pombal as sucessivas vereações municipais permitiam e permitem o definhamento do Pavilhão Carlos Lopes.
Ao fim de 11 anos, o que se passa com o Nosso Sporting? O que terá mudado, para melhor ou pior, com o denominado Projecto Roquete?1. Fomos pioneiros a lançar-nos na execução de um novo estádio, com cadeiras excelentes e todo coberto, onde as cabeceiras se encontram praticamente em cima do relvado, o que permite às claques fazerem-se ouvir com maior intensidade. Acabou-se o transporte de jornais para limpar a água que se acumulava nas cadeiras e colocar por cima das pernas no decorrer do jogo.
2. A equipa profissional e as escolas estão finalmente dotadas de um centro de estágio de fazer inveja aos colossos mundiais, cujos terrenos foram adquiridos pelo Sporting e vieram assim enriquecer o nosso património imobiliário desportivo. Seguramente que aqueles 25 hectares (!) dentro de 50 anos terão um valor nitidamente superior ao actual.
3. Junto ao Estádio, ergueu-se um edifício multidesportivo onde finalmente as mais diversas modalidades puderam encontrar descanso, pese embora se tenha optado por aumentar o estádio de 40.000 para 50.000 lugares o que tenha prejudicado a dimensão desta verdadeira Academia do Desporto Amador.
4. Construiram-se ainda um local para albergar a clínica de maior prestígio no país, um centro comercial para onde se transferiu o Bingo, um edifício de 7 andares para onde transitaram os escritórios internos, um pequeno imóvel onde se situa a secretaria de sócios, um prédio para se instalar a mais famosa cadeia de ginásios de desporto/lazer.
5. Desportivamente, quebrou-se o jejum com as vitórias do campeonato de 2000 e 2002, o futsal soma vitórias, o atletismo colocou 4 medalhados nas últimas olímpiadas de Sydney e internamente segue sem rival, a natação mostra a sua raça, o andebol fez dobradinhas... tantos desportos que nos enchem de orgulho e vêem a sua história de 100 anos afixada em redor do Complexo Alvalade XXI.
6. Na actualização feita pontualmente em 2005, como ordenam os Estatutos, verificou-se que o clube tinha cerca de 80.000 sócios em vigor, cifra que entretanto evoluiu.
Em suma, o Sporting cresceu; o Sporting aumentou o seu património consideravelmente; o Sporting voltou à senda das vitórias. Em muito poucas linhas, foi isto o que sucedeu na vigência do projecto Roquete. Ou não?
Marquês de Gondomar